Sobre a coleção
Coleção Lusofonias
A Coleção Lusofonias, constitui-se atualmente em Portugal como uma das mais relevantes coleções de arte moderna e contemporânea dos países de língua portuguesa. A sua génese remonta ao final da década de 1990, quando começou a ser reunida em ambiente de pesquisa pelo curador Carlos Cabral Nunes, albergando hoje centenas de peças agrupadas tematicamente, em núcleos.
Embora ancorada no território específico da Lusofonia, a coleção constrói-se não apenas sob esse indicador territorial mas, mais que tudo, sob denominadores de ordem temática, onde a subjetividade, o multiculturalismo e a pluralidade são princípio base de um caminho que se intui espelho de uma visão lata do espectro da criação artística moderna, contemporânea, global. É, por assim dizer, a afinidade com uma certa forma de “ser português” e portugalidade, que une os autores incluídos na coleção.
Há por isso uma integração ativa e dinâmica de artistas que vão ao encontro dos seus critérios, bem como uma base conceptual em metamorfose, que procura acompanhar as direções e tendências que se vão verificando na arte das Lusofonias.
Não obstante manter este estatuto de coleção aberta, que cumpre um programa de pesquisa e desenvolvimento permanentes, a coleção Lusofonias definiu inicialmente os seus contornos, em torno de três núcleos históricos, centrais que têm vindo a ser alvo de uma divulgação mais persistente em exposições várias realizadas em Portugal e noutras latitudes, sobretudo a partir do ano 2009: no edifício Tom Tom Kirmizi, na Embaixada de Portugal na Turquia e na Universidade de Bilkent, em Istambul e Ancara (2019); na sede da UCCLA, em Lisboa (2017); no Palácio da Independência, em Lisboa, no âmbito das Comemorações dos 40 anos das Independências nos PALOP (2015); no India International Centre, em Nova Deli (2015); no Palácio do Egipto, Oeiras (2012) e na Galeria Nacional de Arte de Dacar, no Senegal (2010).
“Colonialismos”, “Independências” e “Futuros, Miscigenação e Diáspora”, enquadram, de forma sintética e cronológica, a produção artística moderna e contemporânea desse vasto território lusófono, a que a coleção reporta, e o modo como esta foi evoluindo historicamente entre a década de 1940 e a atualidade.
“COLONIALISMO” diz respeito à produção artística anterior às independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que viria suceder entre 1974 e 1975. As obras incluídas neste período refletem a predominância de uma tendência para usar a arte como discurso revolucionário e de reivindicação política e social, não apenas nos países que viviam sob o colonialismo, mas também em Portugal, onde se vivia uma ditadura.
"INDEPENDÊNCIAS" integra obras marcadas pelos processos de independência, com a instalação de regimes soberanos e pela afirmação de uma identidade própria e única nos vários países lusófonos. Também em Portugal a liberdade que se seguiu a décadas de repressão se fez sentir de modo particular no desenvolvimento artístico.
“FUTUROS, MISCIGENAÇÃO E DIÁSPORA” dá mote ao terceiro momento, procurando apresentar a produção artística que se tem vindo a verificar, na contemporaneidade, não só a de autores a residir nos seus países de origem mas também aqueles cuja obra vem sendo desenvolvida na diáspora.
Organizada tematicamente, estilisticamente e cronologicamente, a coleção permite múltiplas leituras. Apresenta entre os seus muitos protagonistas, figuras profundamente aclamadas, integrando obras relevantes no percurso artístico de autores históricos como Ernesto Shikhani, Malangatana, Cruzeiro Seixas, Manuel Figueira, Raul Perez, Pancho Guedes ou Mário Cesariny.
Ao longo do seus quase 20 anos de existência, a coleção Lusofonias tem vindo não apenas a enriquecer-se nestes seus núcleos históricos, como a abrir novos sectores que espelham a diversidade nas linguagens artísticas contemporâneas.
Alberga a exemplo disso uma relevante secção dedicada à fotografia que incide sobretudo no trabalho de autores dos períodos pós-colonial e da diáspora. Autores que usam a fotografia como arma visual e que ilustram uma nova geração e um dos caminhos e visões singulares que a diáspora africana expressa, através do globo, no campo da arte contemporânea.