Ana
Silva
Seres Suspensos
Pintura e Instalação
30
de Novembro a 10 de Janeiro de 2004


















Seres Suspensos vivem algures aconchegados detrás da
perfeição das formas e das comunidades. São vidas adiadas,
demoradas, deslocadas. São estranhos e estrangeiros entranhados. Pessoas
embargadas dum tempo e dum lugar, repousando em longos pensamentos em que a
vida é segurada por um cordel, como balão num dia de festa, fugindo
da mão duma criança. A morte é o voo duma distancia ou
a traição duma desmemoria, a morte é um sopro da mesma
cor que desenha a vida.
Seres Suspensos são a coloração duma marcha,
o canto e o recanto dum passeio, o pisar duma terra nova. Cada caminho é
o fio de mil equilibristas alinhando em sequências os passos-espaços
da sua suspensão. Um desejo de casa, a birra duma fantasia, um destino
a desviar. A paisagem é uma rota de pedras, um relvado alheio, uma improvisação.
Uma lenta e inexorável abstracção.
Seres suspensos: afasto-me da definição, descoloro os perímetros,
faço de cada traço um improvável abrigo. Vidas diluídas
voltam à matéria através do sonho de movimento que a minha
mão percorre. O corpo da imagem é a forma duma digressão,
o mapa duma presença, o tempo duma aproximação. O seu reflexo
é a luz que me suspende, também.
Longe da minha noite, a noite tem outra cor.

